Voltei ao trabalho e à rotina. Pra falar a verdade, eu já estava sentindo falta dos colegas da PRM/NIT, da música clássica nos fones de ouvido, almoços e também, é claro, de estudar literatura, apesar de estar cursando apenas duas matérias (on-line): Literaturas Africanas e Literatura Hispano-Americana. Tudo isso é bom, depois de umas férias tumultuadas...
Ir ao dentista no Rio e tomar um café na Livraria da Travessa, ver o Carlinhos (gerente fofo e atencioso) e saber das dicas sobre livros, cds e dvds. Lá eu consegui o filme clássico “Pele de Asno”, além do livro “O coração é um caçador solitário” (Carson Mccullers), verdadeiras descobertas! E ainda tenho “Jerusalém”, do português Gonçalo M. Tavares para me deliciar.
Vejam o que diz Paola de Orde à Revista Idéias nº 74, sobre o belo livro de Mccullers:
“Não há dúvidas de que esse é o título de livro mais bonito e singelo que já existiu. Digno de tatuagem em lugar visível. De discurso de presidente pré-suicídio. De carta de amor despedaçado, cuspido e dilacerado.
Porém, The Heart is a Lonely Hunter (a ressonância em inglês deixa o nome ainda mais bonito) não trata de nenhuma das solidões citadas. A solidão do livro não é a solidão do amor e do desespero. É a solidão do dia-a-dia, de gente comum. A solidão que mata ao passar da horas e é inerente à nossa racinha.
Os solitários convidados por Carson McCullers, pseudônimo da escritora Lula Carson Smith, para reger a orquestra da solidão são: Dr. Copeland, Biff Brannon, Jack Blount e Mick Kelly. O maestro: John Singer. Não é que os outros personagens não sejam solitários. Todos são. Mas os outros são apenas espectadores morando em uma cidade pobre ao sul dos Estados Unidos no começo do século passado.
Dr. Copeland é um médico negro e marxista que acredita na salvação do seu povo através dos mandamentos de Karl Marx. Muito respeitado entre os “do seu povo”, casou-se e teve filhos. Durante os primeiros anos de suas vidas, sonhou com dias de glória, em que ele e os quatro salvariam os negros norte-americanos da miséria. Porém, os anos foram se passando e as crianças nunca se interessaram pelas suas idéias. Se transformaram em tudo o que o Dr. Copeland odiava.
Biff Brannon, dono de bar, passa seus dias recebendo clientes esfomeados e suas noites servindo bêbados. Um deles é Jack Blount, outro comunista, porém mais revoltado perante a vida. Blount vive mudando de cidade em cidade nos Estados Unidos à procura de alguém que o entenda e que queira o acompanhar em seu caminho contra as injustiças do mundo. Tudo o que consegue é rejeição e humilhação.
O personagem mais sedutor para leitores de passado sonhador é Mick Kelly. Mick está numa fase entre a infância e a adolescência e certo dia, ouvindo rádio, descobre a música clássica. Fica encantada e decide que quando crescer vai virar música. Porém, como toda criança que sonha com um futuro artístico, Mick não fica só na profissão. Ela sonha com grandes teatros em terras cobertas com neve e paisagens suíças. Com fãs, vestidos elegantes, e comida de sobra. Todos esses sonhos, Mick esconde no “mundo de dentro”. A solidão surge quando Mick é obrigada a voltar para o mundo de fora e lembra que está com fome.
John Singer é surdo mudo. Depois de seu melhor amigo e fiel companheiro, Antonapoulos, ser tomado pela loucura e acabar internado em um hospício, Singer passa a alugar um quarto na casa dos Kelly. Nesse quarto, recebe as visitas do Dr. Copeland, Biff Brannon, Jack Blount e Mick Kelly. Os quatro contam suas histórias e anseios de vida para Singer, que passa seus dias a ler os lábios dos solitários. Todos ficam impressionados com a genialidade do mudo e começam a adorá-lo, como a um ídolo. Nunca sabem explicitar por que o amam tanto. Nenhum deles sabe explicar por que amam tanto uma pessoa que só ouve (ou melhor, lê lábios), nunca fala”.
Um comentário:
Parabéns pelo Blogue.
É muito bonito, gosto do que leio e vejo.
Um abraço desde Portugal
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