adj. s.m. FARM 1 que ou o que combate os efeitos de uma toxina ou veneno (diz-se de substância, medicamento, soro). s.m. 2 p.ext. o que evita ou corrige (vício, defeito, estado de depressão psicológica, paixão etc.); corretivo, remédio. ETIM lat. antidôtum,i'id.', do gr. antidoton, ou 'id'. Dicionário Houaiss
segunda-feira, julho 20, 2009
quarta-feira, julho 08, 2009
Impressões sobre a 7ª FLIP
Encontrei Paraty enfeitada para receber autores e leitores em sua 7ª edição. Embora fosse a minha terceira ida à festa, fiquei surpresa e agitada ao chegar à cidade, tão cheia de atrações e com um grande número de visitantes. Os bonecos de papel marché estavam em toda parte e a novidade desse ano foi a baleia Moby Dick, com Pinóquio e Gepeto em seu interior.
As pessoas circulavam com suas máquinas fotográficas em punho e a tiracolo. Os modelos eram os mais variados, assim como os tamanhos das lentes. Restaurantes e bares cheios, arlequins declamando poesias, o maracatu nas ruas, enfim, diversão à beça e sem problemas.
Árvores de livros, o trem-de-ferro do Manuel Bandeira na praça e bonecos que imitavam crianças com os braços estendidos para o alto, à espera de balões. A tenda da flipinha, colorida, contando com a presença de Carlos Heitor Cony, Ana Lee, Ruth Rocha, Bia Hetzel, dentre tantos outros; a rádio maluca sendo transmitida direto da FLIP para a Rádio Mec; entrevista com Ivan Zigg, Luís Perequê tocando violão, além de muita contação de histórias.
Houve show de blues no Café Paraty, música ao vivo no Paraty 33, com ótimas bandas de São Paulo, além de violão e voz em vários outros lugares. O cais enfeitado, as ruas limpas - apesar das charretes e seus cavalos - estas aumentando o cheiro de história característico do lugar.
A mesa “Verdades inventadas” foi composta por Tatiana Salém Levy, Arnaldo Bloch e Sérgio Rodrigues, os quais falaram sobre suas respectivas obras (A chave de casa, Os irmãos Karamabloch e Elza, a garota). Percebi Tatiana, que tem formação em letras, um tanto tímida , entre dois jornalistas experientes, preocupada em deixar claro que não havia escrito uma autobiografia. Os três leram trechos dos seus livros. Senti muito por não ter lido Bloch e Rodrigues e feliz por estar ouvindo a escritora de 28 anos, autora premiada e que daqui a um tempo talvez tenha a fluência da palavra falada tão proficiente quanto a da escrita.
Depois, ouvi Bernardo Carvalho (O filho da mãe) e o afegão Atiq Rahimi (Pedra da Paciência) na mesa “O avesso do realismo”. A mediação foi feita por Beatriz Resende, professora de Literatura Comparada da UFRJ. Tudo ia muito bem até que surgiu a pergunta acerca da importância da literatura nacional para ambos e de uma quebra de fronteiras entre estas. Atiq disse ser complicado falar numa literatura nacional no Afeganistão, mas que acreditava em sentimentos humanos universais e numa literatura que, por essa razão, transcendesse fronteiras. Bernardo falou em suas viagens à Mongólia e à Rússia, mas deixou claro que as incursões por esses países não foram essenciais à escrita das obras. Disse, ainda, precisar do medo para criar e falar dos paradoxos, dos sentimento capazes de incomodar o ser humano, enfatizando de maneira pouco cortês que os “bons sentimentos” não fazem da literatura algo comum aos homens de diversos países, ou seja, discordou de forma veemente do escritor afegão.
Ainda sobre a questão colocada nessa mesa, pode-se dizer que a crise da literatura comparada existe, principalmente, em razão do nacionalismo exacerbado em diversos países, e nisso Bernardo tem razão. Dificilmente Mongólia e O filho da mãe serão lidos na Mongólia e na Rússia, respectivamente. Porém, não se pode negar que um dos pilares da literatura comparada seja a universalidade, o estabelecimento de relações entre as obras de arte (ou não) de diversas épocas e locais e isso foi o que Atiq pode ter tentado dizer.
Richard Dawkins falou sobre a Teoria da Evolução (Charles Darwin) em seus livros Deus é um delírio (tema da mesa) e O gene egoísta, dentre outros, com a mediação de Silio Boccanera. O apressado autor disse estar se sentindo amedrontado ao falar de ateísmo num país católico como o Brasil. As perguntas feitas pela plateia, pelo que soube, foram cortadas. Enfim, eu esperava mais da entrevista.
Não assisti Chico Buarque e Milton Hatoum. A mesa provocou comoção na cidade, pois os ingressos haviam se esgotado na primeira meia hora de venda e as pessoas se aglomeravam para tentar ver e ouvir o autor de Leite derramado. Li Chico e, no começo, gostei bastante. Depois, a história deixou de me encantar. Prefiro o belo homem de olhos azuis como cantor e compositor.
A mais grata surpresa da FLIP foi António Lobo Antunes. A mesa “Escrever é preciso” composta pelo jornalista Humberto Werneck e por esse escritor português, emocionou a todos: “Há alturas que você pensa: não vou ser capaz, para que escrever?. Só vale a pena quando nos é inconcebível, porque ler dá muito mais prazer. O leitor tinha que vir na capa do livro, não o escritor. Um livro bom é aquele que foi escrito só pra mim”. Lembrei-me, então, de R. M. Rilke em Cartas a um jovem poeta. Ao falar da sua família brasileira, disse que o nosso país, para ele, não é a terra em si, mas os cheiros, os doces das tias, o sotaque, a poesia de Manuel Bandeira, e, por isso, não precisa estar aqui, fisicamente, para estar no Brasil. Lobo Antunes lembrou do avô durante a entrevista, além dos escritores Jorge Amado e João Ubaldo Ribeiro, seus amigos. O autor de Explicação dos pássaros e Meu nome é Legião encantou a plateia (“O grande artista é aquele que muda a arte”).
Cristóvão Tezza e Mario Bellatin fizeram parte da mesa “O eu profundo e outros eus”. Tezza, ao escrever O filho eterno, sobre a história do seu filho com síndrome de Down, o fez em terceira pessoa, por absoluta impossibilidade de usar o “eu” diante dessa delicada questão. Mario Bellatin (Flores), usando uma prótese com um gancho na ponta no lugar do braço que lhe falta, foi questionado por ter organizado um seminário sobre a literatura mexicana em Paris e, em vez de enviar os autores do seu país para falar na França, apresentou pessoas que decoraram os textos desses escritores, com a finalidade de observar se tais idéias permaneceriam e fariam sentido sem a presença dos seus criadores. Por essa atitude foi bastante criticado à época. Quando perguntado sobre o porquê de não ter enviado apenas um respresentante das suas idéias à FLIP, respondeu (entre risos) que não queria perder a oportunidade de vir ao Brasil.
Simon Schama foi entrevistado por Lilia Moritz Scharcz, ambos historiadores, durante a mesa “O futuro da América”. O autor falou sobre a situação política dos Estados Unidos, o desgoverno de Bush e a eleição de Barack Obama; para ele, os americanos viram além da cor da pele do presidente eleito e sentiram como se Lincoln fizesse parte não só do discurso, mas do gabinete de Obama. Concluindo a entrevista, a brasileira preguntou ao escritor inglês sobre o que ele achava do fato de não existir sequer um negro na plateia, ao que ele respondeu: “é um defeito da FLIP. Vocês precisam resolver isso”.
A verdade é que a FLIP é bastante elitista. Embora Bia Hetzel tenha dito que os paratienses precisam se apropriar da festa, porque a FLIP também é para eles, podemos perceber o quanto isso é difícil e não se sabe até que ponto, verdadeiro. Paraty é uma cidade cara, inacessível nessa época do ano para quem não faz parte de uma classe mais favorecida ou não se sacrifica para poder participar. É tudo muito bonito, as manifestações culturais estão presentes em cada esquina, mas, definitivamente, ainda não é para todos.
As pessoas circulavam com suas máquinas fotográficas em punho e a tiracolo. Os modelos eram os mais variados, assim como os tamanhos das lentes. Restaurantes e bares cheios, arlequins declamando poesias, o maracatu nas ruas, enfim, diversão à beça e sem problemas.
Árvores de livros, o trem-de-ferro do Manuel Bandeira na praça e bonecos que imitavam crianças com os braços estendidos para o alto, à espera de balões. A tenda da flipinha, colorida, contando com a presença de Carlos Heitor Cony, Ana Lee, Ruth Rocha, Bia Hetzel, dentre tantos outros; a rádio maluca sendo transmitida direto da FLIP para a Rádio Mec; entrevista com Ivan Zigg, Luís Perequê tocando violão, além de muita contação de histórias.
Houve show de blues no Café Paraty, música ao vivo no Paraty 33, com ótimas bandas de São Paulo, além de violão e voz em vários outros lugares. O cais enfeitado, as ruas limpas - apesar das charretes e seus cavalos - estas aumentando o cheiro de história característico do lugar.
A mesa “Verdades inventadas” foi composta por Tatiana Salém Levy, Arnaldo Bloch e Sérgio Rodrigues, os quais falaram sobre suas respectivas obras (A chave de casa, Os irmãos Karamabloch e Elza, a garota). Percebi Tatiana, que tem formação em letras, um tanto tímida , entre dois jornalistas experientes, preocupada em deixar claro que não havia escrito uma autobiografia. Os três leram trechos dos seus livros. Senti muito por não ter lido Bloch e Rodrigues e feliz por estar ouvindo a escritora de 28 anos, autora premiada e que daqui a um tempo talvez tenha a fluência da palavra falada tão proficiente quanto a da escrita.
Depois, ouvi Bernardo Carvalho (O filho da mãe) e o afegão Atiq Rahimi (Pedra da Paciência) na mesa “O avesso do realismo”. A mediação foi feita por Beatriz Resende, professora de Literatura Comparada da UFRJ. Tudo ia muito bem até que surgiu a pergunta acerca da importância da literatura nacional para ambos e de uma quebra de fronteiras entre estas. Atiq disse ser complicado falar numa literatura nacional no Afeganistão, mas que acreditava em sentimentos humanos universais e numa literatura que, por essa razão, transcendesse fronteiras. Bernardo falou em suas viagens à Mongólia e à Rússia, mas deixou claro que as incursões por esses países não foram essenciais à escrita das obras. Disse, ainda, precisar do medo para criar e falar dos paradoxos, dos sentimento capazes de incomodar o ser humano, enfatizando de maneira pouco cortês que os “bons sentimentos” não fazem da literatura algo comum aos homens de diversos países, ou seja, discordou de forma veemente do escritor afegão.
Ainda sobre a questão colocada nessa mesa, pode-se dizer que a crise da literatura comparada existe, principalmente, em razão do nacionalismo exacerbado em diversos países, e nisso Bernardo tem razão. Dificilmente Mongólia e O filho da mãe serão lidos na Mongólia e na Rússia, respectivamente. Porém, não se pode negar que um dos pilares da literatura comparada seja a universalidade, o estabelecimento de relações entre as obras de arte (ou não) de diversas épocas e locais e isso foi o que Atiq pode ter tentado dizer.
Richard Dawkins falou sobre a Teoria da Evolução (Charles Darwin) em seus livros Deus é um delírio (tema da mesa) e O gene egoísta, dentre outros, com a mediação de Silio Boccanera. O apressado autor disse estar se sentindo amedrontado ao falar de ateísmo num país católico como o Brasil. As perguntas feitas pela plateia, pelo que soube, foram cortadas. Enfim, eu esperava mais da entrevista.
Não assisti Chico Buarque e Milton Hatoum. A mesa provocou comoção na cidade, pois os ingressos haviam se esgotado na primeira meia hora de venda e as pessoas se aglomeravam para tentar ver e ouvir o autor de Leite derramado. Li Chico e, no começo, gostei bastante. Depois, a história deixou de me encantar. Prefiro o belo homem de olhos azuis como cantor e compositor.
A mais grata surpresa da FLIP foi António Lobo Antunes. A mesa “Escrever é preciso” composta pelo jornalista Humberto Werneck e por esse escritor português, emocionou a todos: “Há alturas que você pensa: não vou ser capaz, para que escrever?. Só vale a pena quando nos é inconcebível, porque ler dá muito mais prazer. O leitor tinha que vir na capa do livro, não o escritor. Um livro bom é aquele que foi escrito só pra mim”. Lembrei-me, então, de R. M. Rilke em Cartas a um jovem poeta. Ao falar da sua família brasileira, disse que o nosso país, para ele, não é a terra em si, mas os cheiros, os doces das tias, o sotaque, a poesia de Manuel Bandeira, e, por isso, não precisa estar aqui, fisicamente, para estar no Brasil. Lobo Antunes lembrou do avô durante a entrevista, além dos escritores Jorge Amado e João Ubaldo Ribeiro, seus amigos. O autor de Explicação dos pássaros e Meu nome é Legião encantou a plateia (“O grande artista é aquele que muda a arte”).
Cristóvão Tezza e Mario Bellatin fizeram parte da mesa “O eu profundo e outros eus”. Tezza, ao escrever O filho eterno, sobre a história do seu filho com síndrome de Down, o fez em terceira pessoa, por absoluta impossibilidade de usar o “eu” diante dessa delicada questão. Mario Bellatin (Flores), usando uma prótese com um gancho na ponta no lugar do braço que lhe falta, foi questionado por ter organizado um seminário sobre a literatura mexicana em Paris e, em vez de enviar os autores do seu país para falar na França, apresentou pessoas que decoraram os textos desses escritores, com a finalidade de observar se tais idéias permaneceriam e fariam sentido sem a presença dos seus criadores. Por essa atitude foi bastante criticado à época. Quando perguntado sobre o porquê de não ter enviado apenas um respresentante das suas idéias à FLIP, respondeu (entre risos) que não queria perder a oportunidade de vir ao Brasil.
Simon Schama foi entrevistado por Lilia Moritz Scharcz, ambos historiadores, durante a mesa “O futuro da América”. O autor falou sobre a situação política dos Estados Unidos, o desgoverno de Bush e a eleição de Barack Obama; para ele, os americanos viram além da cor da pele do presidente eleito e sentiram como se Lincoln fizesse parte não só do discurso, mas do gabinete de Obama. Concluindo a entrevista, a brasileira preguntou ao escritor inglês sobre o que ele achava do fato de não existir sequer um negro na plateia, ao que ele respondeu: “é um defeito da FLIP. Vocês precisam resolver isso”.
A verdade é que a FLIP é bastante elitista. Embora Bia Hetzel tenha dito que os paratienses precisam se apropriar da festa, porque a FLIP também é para eles, podemos perceber o quanto isso é difícil e não se sabe até que ponto, verdadeiro. Paraty é uma cidade cara, inacessível nessa época do ano para quem não faz parte de uma classe mais favorecida ou não se sacrifica para poder participar. É tudo muito bonito, as manifestações culturais estão presentes em cada esquina, mas, definitivamente, ainda não é para todos.
segunda-feira, julho 06, 2009
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