85
minutos e 4 segundos
Oitenta
e cinco minutos e quatro segundos. Foi esse o tempo de duração da
nossa mais recente conversa ao telefone. Tive a curiosidade de vê-lo
registrado no celular. Afinal, eram tantos os assuntos em pauta... O
que mais me chamou a atenção foi a sua relação com elas, as
palavras. Não imaginava encontrar eco em você, não com essa
amplitude, embora soubesse que a leitura faz parte do nosso
território comum, dentre tantos temas que nos aproximam. A palavra
eco mexeu comigo. Gostei e descobri via Google que “um eco
verdadeiro é uma única reflexão da fonte de som”.
Desliguei.
Fui dormir. Era madrugada e estava cansada. Não consegui. Elas não
saíam do meu pensamento. As minhas, as suas. Estavam com as mãos
enlaçadas. Abraçaram-se em perfeita sintaxe, formaram orações
subordinadas aos sentimentos, ao tempo. Nosso texto foi ficando
coeso, rico em verbos no futuro do presente e alguns no pretérito,
ainda imperfeito, mas indicativo...
Fazia
frio. Cobri meu corpo com os termos de cada oração, tentando
adormecer em paz. Antes, porém, precisava desdobrá-los,
desvendar-lhes os sentidos, para me sentir totalmente aquecida. Foi
quando descobri estar entre verbetes Houaissianos e neologismos
vindos diretamente das Veredas dos seus Grandes Sertões. É, não há
tradução possível. Rosa só tem sentido em nossa língua, assim
como a saudade.
Então,
perdida ao buscar coerência e me tornar inteligível – sei que não
sou –, evitei a voz passiva que ainda soava em meus ouvidos.
Procurei a ordem direta, cortei adjetivos e percebi o que me
incomodava: advérbios de lugar. Continentes diferentes. Estávamos,
fisicamente, bem distantes.
Vieram
em meu socorro os advérbios de intensidade e modo. Vi que sentia
muito a sua falta e de forma doída. Ah, as afinidades, os elos, os
conectivos. Como fazem falta! Verdadeiros elãs da vida. Não houve
emplastro ou bálsamo que pudesse colocar um ponto final nesse
período, nesse inverno. Optei por esperar a chegada da primavera.
Sei que quando entrar setembro as noites ficarão mais quentes.
Hora da
revisão do que foi dito. Há boas elipses, mas ambiguidade e
redundância também. Não vou cortá-las, pois sempre fizeram parte
do nosso discurso. Ah, bem observado: não existem clichês entre nós
e a semântica continua tudo de bom, com implícitos e explícitos à
vontade, na fala de cada um, com todos os significantes e
significados possíveis.
Qual o
seria o gênero adequado para a escrita? Crônica ou e-mail? Ambos.
Quanta metalinguagem!Quem sabe consigo fazer diferente ao transcrever
a próxima ligação que houver entre nós.
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