terça-feira, abril 21, 2009

DICA DE LEITURA: A CHAVE DE CASA (TATIANA SALEM LEVY)



"ESCREVO COM AS MÃOS ATADAS. NA CONCRETUDE IMÓVEL DO MEU QUARTO, DE ONDE NÃO SAIO HÁ LONGO TEMPO. ESCREVO SEM PODER ESCREVER E: POR ISSO ESCREVO. DE RESTO, NÃO SABERIA O QUE FAZER COM ESTE CORPO QUE, DESDE A SUA CHEGADA AO MUNDO,NÃO CONSEGUE SAIR DO LUGAR. (...) NASCI COM CHEIRO DE TERRA ÚMIDA, O BAFO DE TEMPOS ANTIGOS SOBRE O MEU DORSO.(...) NUNCA FALO SOZINHA, FALO NA COMPANHIA DESSE SOPRO QUE ME SEGUE DESDE O PRIMEIRO DIA."

"SERÁ QUE ENCONTRARIA A CASA DOS MEUS ANTEPASSADOS? QUE A CHAVE AINDA SERIA A MESMA? EU TENTAVA ACREDITAR NESSA HISTÓRIA QUE TINHA INVENTADO PARA MIM MESMA, NESSA HISTÓRIA QUE AINDA INVENTO E QUE É A ÚNICA CAPAZ DE ME DAR ALGUMA RESPOSTA. NESSA HISTÓRIA QUE PODE SER A MAIS DESCABIDA, MAS TAMBÉM A MAIS REAL. NÃO SEI ATÉ QUE PONTO SÃO VERDADEIRAS AS HISTÓRIAS DO MEU AVÔ, ATÉ QUE PONTO É VERDADEIRO O QUE VIVO AGORA. NEM MESMO SEI SE É VERDADEIRA A MINHA VIAGEM. PARECE QUE QUANTO MAIS ME APROXIMO DOS FATOS, MAIS ME AFASTO DA VERDADE."

Cheguei ao fim de mais um livro: “A chave de Casa”, de Tatiana Salem Levy. Indicaram-me a obra e lá fui eu correndo à livraria comprá-la. Não haveria tempo para que esta chegasse por encomenda ao Submarino, ou melhor, eu não sentia a menor vontade de esperar.

As palavras da Tatiana foram me capturando, a cada frase, a cada curto capítulo. Senti a dor da perda, o desejo e a frustração da personagem/autora. Trata-se, realmente, de um livro sensorial, como bem o definiu Cintia Moscovich, na orelha.

A jovem autora não fica somente na superfície da trama, mas adentra a narrativa e parece viver a própria obra. Escrever somente, para ela, seria muito pouco. Então, não me restou outra alternativa a não ser vivê-la também: passeei pelas ruas de Istambul, tomei um banho turco e conheci sua família em Esmirna. Não menciono aqui o que nos aconteceu em Portugal, pois quebraria o suspense para quem ainda não conhece a história, só digo que fiquei com muita vontade de ir à Lisboa de Camões e Pessoa, respirar ares ancestrais e provar os doces típicos daquela capital.

Há algum tempo não lia um livro tão envolvente. Adorei!

Nenhum comentário: