adj. s.m. FARM 1 que ou o que combate os efeitos de uma toxina ou veneno (diz-se de substância, medicamento, soro). s.m. 2 p.ext. o que evita ou corrige (vício, defeito, estado de depressão psicológica, paixão etc.); corretivo, remédio. ETIM lat. antidôtum,i'id.', do gr. antidoton, ou 'id'. Dicionário Houaiss
sexta-feira, agosto 20, 2010
quarta-feira, agosto 18, 2010
STJunior (post retirado do blog Direito das Famílias - http://direitosdasfamilias.blogspot.com)
STJunior: está no ar o site do STJ para os pequenos cidadãos
Pensão alimentícia, matrícula escolar, guarda, adoção, reconhecimento de paternidade... assuntos que envolvem crianças e adolescentes e são constantemente analisados pelo Superior Tribunal de Justiça (STJ). A partir desta quarta-feira (18), os pequenos cidadãos vão deixar de ser apenas partes interessadas nos processos que chegam aqui. Eles passam a ter um canal de comunicação para entender o mundo do Direito: é o STJunior (www.stjunior.stj.jus.br), o site infantojuvenil do Tribunal da Cidadania. O STJ é o primeiro tribunal superior a criar uma página na internet totalmente voltada para esse público. (clique no título e acesse o site)
O STJunior foi projetado não apenas para traduzir a linguagem jurídica para crianças e adolescentes, mas também para que elas compreendam o papel da Justiça nas relações da sociedade moderna. Com a ajuda de seis divertidos personagens e em formato de histórias em quadrinhos, o site explica o trabalho do STJ e a importância daqueles que fazem com que o Judiciário cumpra sua função de interpretar e aplicar as leis.
A ideia do STJunior partiu de uma servidora da Secretaria de Comunicação Social, unidade que coordenou a implementação do projeto. Com o apoio das Secretarias de Tecnologia da Informação e Comunicação e de Documentação, o site foi desenvolvido dentro do próprio Tribunal, graças à dedicação de uma equipe de vinte pessoas, entre servidores, terceirizados e estagiários. Ilustrações, textos, animações, layouts, tudo foi pensado e executado por profissionais que atuam no STJ.
Com um texto despojado e ao mesmo tempo atento aos detalhes, os personagens Toguinha, Virtus, Webdoc, Mutatis, Judi e Caliandra guiam os pequenos internautas em uma viagem pelo mundo jurídico. As aventuras se tornam ainda mais vibrantes com as cores vivas e o design moderno do site.
O STJunior conta com seis links. No menu “STJ”, as crianças vão aprender sobre justiça e cidadania, conhecer a principal atividade do Tribunal e o projeto de virtualização (transformação dos processos em papel para o meio eletrônico). O link “Turma da Justiça” foi idealizado para mostrar as diferenças entre o trabalho do magistrado, do advogado, do defensor público e do procurador. No “Planeta Gaia”, a garotada vai se familiarizar com os projetos socioeducativos e socioambientais do Tribunal.
Os pequenos mais antenados e até mesmo os desligados têm a providencial ajuda de “Um Outro Mundo”: o dicionário do STJunior. Também há espaço para quem tiver dúvidas ou sugestões, nesse caso é só acessar o “Conexão STJunior” para entrar em contato com a equipe do site. E, por fim, o link “Cuca Fresca” vai entreter crianças, adolescentes e, até mesmo adultos, com atividades lúdicas e educativas.
retirado do site do STJ
Pensão alimentícia, matrícula escolar, guarda, adoção, reconhecimento de paternidade... assuntos que envolvem crianças e adolescentes e são constantemente analisados pelo Superior Tribunal de Justiça (STJ). A partir desta quarta-feira (18), os pequenos cidadãos vão deixar de ser apenas partes interessadas nos processos que chegam aqui. Eles passam a ter um canal de comunicação para entender o mundo do Direito: é o STJunior (www.stjunior.stj.jus.br), o site infantojuvenil do Tribunal da Cidadania. O STJ é o primeiro tribunal superior a criar uma página na internet totalmente voltada para esse público. (clique no título e acesse o site)
O STJunior foi projetado não apenas para traduzir a linguagem jurídica para crianças e adolescentes, mas também para que elas compreendam o papel da Justiça nas relações da sociedade moderna. Com a ajuda de seis divertidos personagens e em formato de histórias em quadrinhos, o site explica o trabalho do STJ e a importância daqueles que fazem com que o Judiciário cumpra sua função de interpretar e aplicar as leis.
A ideia do STJunior partiu de uma servidora da Secretaria de Comunicação Social, unidade que coordenou a implementação do projeto. Com o apoio das Secretarias de Tecnologia da Informação e Comunicação e de Documentação, o site foi desenvolvido dentro do próprio Tribunal, graças à dedicação de uma equipe de vinte pessoas, entre servidores, terceirizados e estagiários. Ilustrações, textos, animações, layouts, tudo foi pensado e executado por profissionais que atuam no STJ.
Com um texto despojado e ao mesmo tempo atento aos detalhes, os personagens Toguinha, Virtus, Webdoc, Mutatis, Judi e Caliandra guiam os pequenos internautas em uma viagem pelo mundo jurídico. As aventuras se tornam ainda mais vibrantes com as cores vivas e o design moderno do site.
O STJunior conta com seis links. No menu “STJ”, as crianças vão aprender sobre justiça e cidadania, conhecer a principal atividade do Tribunal e o projeto de virtualização (transformação dos processos em papel para o meio eletrônico). O link “Turma da Justiça” foi idealizado para mostrar as diferenças entre o trabalho do magistrado, do advogado, do defensor público e do procurador. No “Planeta Gaia”, a garotada vai se familiarizar com os projetos socioeducativos e socioambientais do Tribunal.
Os pequenos mais antenados e até mesmo os desligados têm a providencial ajuda de “Um Outro Mundo”: o dicionário do STJunior. Também há espaço para quem tiver dúvidas ou sugestões, nesse caso é só acessar o “Conexão STJunior” para entrar em contato com a equipe do site. E, por fim, o link “Cuca Fresca” vai entreter crianças, adolescentes e, até mesmo adultos, com atividades lúdicas e educativas.
retirado do site do STJ
(Foto retirada do site. Participação do MVB na Flip)
"A leitura literária é um direito de todos e que ainda não está escrito. O sujeito anseia por conhecimentos e possui a necessidade de estender suas intuições criadoras aos espaços em que convive. Compreendendo a literatura como capaz de abrir um diálogo subjetivo entre o leitor e a obra, entre o vivido e o sonhado, entre o conhecido e o ainda por conhecer; considerando que este diálogo das diferenças . inerente à literatura . nos confirma como redes de relações; reconhecendo que a maleabilidade do pensamento concorre para a construção de novos desafios para a sociedade; afirmando que a literatura, pela sua configuração, acolhe a todos e concorre para o exercício de um pensamento crítico, ágil e inventivo; compreendendo que a metáfora literária abriga as experiências do leitor e não ignora suas singularidades, que as instituições em pauta confirmam como essencial para o País a concretização de tal projeto".
MOVIMENTO POR UM BRASIL LITERÁRIO - www.brasilliterario.org.br
Belo Horizonte, 16 de dezembro de 2009
Hoje, me vi pensando como seria viver em um país de leitores literários. Pode ser apenas um sonho, mas estaríamos em um lugar em que a tolerância seria melhor exercida. Praticar a tolerância é abrigar, com respeito, as divergências, atitude só viável quando estamos em liberdade. Desconfio que, com tolerância, conviver com as diferenças torna-se em encantamento. A escrita literária se configura quando o escritor rompe com o cotidiano da linguagem e deixa vir à tona toda sua diferença – e sem preconceitos. São antigas as questões que nos afligem: é o medo da morte, do abandono, da perda, do desencontro, da solidão, desejo de amar e ser amado. E, nas pausas estabelecidas entre essas nossas faltas, carregamos grande vocação para a felicidade. O texto literário não nasce desacompanhado destes incômodos que suportamos vida afora. Mas temos o desejo de tratá-los com a elegância que a dignidade da consciência nos confere.
A leitura literária, a mim me parece, promove em nós um desejo delicado de ver democratizada a razão. Passamos a escutar e compreender que o singular de cada um – homens e mulheres – é que determina sua forma de relação. Todo sujeito guarda bem dentro de si um outro mundo possível. Pela leitura literária esse anseio ganha corpo. É com esse universo secreto que a palavra literária quer travar a sua conversa. O texto literário nos chega sempre vestido de novas vestes para inaugurar este diálogo, e, ainda que sobre truncadas escolhas, também com muitas aberturas para diversas reflexões. E tudo a literatura realiza, de maneira intransferível, e segundo a experiência pessoal de cada leitor. Isto se faz claro quando diante de um texto nos confidenciamos: "ele falou antes de mim", ou "ele adivinhou o que eu queria dizer".
O texto literário não ignora a metáfora. Reconhece sua força e possibilidade de acolher as diferenças. As metáforas tanto velam o que o autor tem a dizer como revelam os leitores diante de si mesmo. Duas faces tem, pois, a palavra literária e são elas que permitem ao leitor uma escolha. No texto literário autor e leitor se somam e uma terceira obra, que jamais será editada, se manifesta. A literatura, por dar a voz ao leitor, concorre para a sua autonomia. Outorga-lhe o direito de escolher o seu próprio destino. Por ser assim, a leitura literária cria uma relação de delicadeza entre homens e mulheres.
Uma sociedade delicada luta pela igualdade dos direitos, repudia as injustiças, despreza os privilégios, rejeita a corrupção, confirma a liberdade como um direito que nascemos com ele. Para tanto, a literatura propõe novos discernimentos, opções mais críticas, alternativas criativas e confia no nosso poder de reinvenção. Pela leitura conferimos que a criatividade é inerente a todos nós. Pela leitura literária nos descobrimos capazes também de sonhar com outras realidades. Daí, compreender, com lucidez, que a metáfora, tão recorrente nos textos literários, é também uma figura política.
Quando pensamos em um Brasil Literário é por reconhecer o poder da literatura e sua função sensibilizadora e alteradora. Mas é preciso tomar cuidados. Numa sociedade consumista e sedutora, muitos são leitores para consumo externo. Lêem para garantir o poder, fazem da leitura um objeto de sedução. É preciso pensar o Brasil Literário com aquele leitor capaz de abrir-se para que a palavra literária se torne encarnada e que passe primeiro pelo consumo interno para, só depois, tornar-se ação.
O Brasil Literário pode, em princípio, parecer uma utopia, mas por que não buscar realizá-la?
Com meu abraço, sempre,
Bartolomeu Campos de Queirós
Movimento por um Brasil literário
terça-feira, agosto 17, 2010
UM ANGOLANO
“A língua portuguesa é um troféu de guerra”
Luandino Vieira
A poetisa portuguesa
Sophia de Mello Breyner
gostava de saborear
uma a uma
todas as sílabas
do português do Brasil.
Estou a vê-la:
suave e discreta,
debruçada sobre a varanda do tempo,
o olhar estendendo-se com o mar
e a memória,
deliciando-se comovida
com o sol despudorado
ardendo
nas vogais abertas da língua,
violentando com doçura
os surdos limites
das consoantes
e ampliando-os
para lá da História.
Mas saberia ela
quem rasgou esses limites,
com o seu sangue,
a sua resistência
e a sua música?
A libertação da língua portuguesa
foi gerada nos porões
dos navios negreiros
pelos homens sofridos que,
estranhamente,
nunca deixaram de cantar,
em todas as línguas que conheciam
ou criaram
durante a tenebrosa travessia
do mar sem fim.
Desde o nosso encontro inicial,
essa língua, arrogante e
insensatamente,
foi usada contra nós:
mas nós derrotámo-la
e fizemos dela
um instrumento
para a nossa própria liberdade.
Os antigos donos da língua
pensaram, durante séculos,
que nos apagariam da sua culpada consciência
com o seu idioma brutal,
duro,
fechado sobre si mesmo,
como se nele quisessem encerrar
para todo o sempre
os inacreditáveis mundos
que se abriam à sua frente.
Esses mundos, porém,
eram demasiado vastos
para caberem nessa língua envergonhada
e esquizofrénica.
Era preciso traçar-lhe
novos horizontes.
Primeiro, então, abrimos
de par em par
as camadas dessa língua
e iluminamo-la com a nossa dor;
depois demos-lhe vida,
com a nossa alegria
e os nossos ritmos.
Nós libertámos a língua portuguesa
das amarras da opressão.
Por isso, hoje,
podemos falar todos
uns com os outros,
nessa nova língua
aberta, ensolarada e sem pecado
que a poetisa portuguesa
Sophia de Mello Breyner
julgou ter descoberto
no Brasil,
mas que um poeta angolano
reivindica
como um troféu de luta,
identidade
e criação.
Luandino Vieira
A poetisa portuguesa
Sophia de Mello Breyner
gostava de saborear
uma a uma
todas as sílabas
do português do Brasil.
Estou a vê-la:
suave e discreta,
debruçada sobre a varanda do tempo,
o olhar estendendo-se com o mar
e a memória,
deliciando-se comovida
com o sol despudorado
ardendo
nas vogais abertas da língua,
violentando com doçura
os surdos limites
das consoantes
e ampliando-os
para lá da História.
Mas saberia ela
quem rasgou esses limites,
com o seu sangue,
a sua resistência
e a sua música?
A libertação da língua portuguesa
foi gerada nos porões
dos navios negreiros
pelos homens sofridos que,
estranhamente,
nunca deixaram de cantar,
em todas as línguas que conheciam
ou criaram
durante a tenebrosa travessia
do mar sem fim.
Desde o nosso encontro inicial,
essa língua, arrogante e
insensatamente,
foi usada contra nós:
mas nós derrotámo-la
e fizemos dela
um instrumento
para a nossa própria liberdade.
Os antigos donos da língua
pensaram, durante séculos,
que nos apagariam da sua culpada consciência
com o seu idioma brutal,
duro,
fechado sobre si mesmo,
como se nele quisessem encerrar
para todo o sempre
os inacreditáveis mundos
que se abriam à sua frente.
Esses mundos, porém,
eram demasiado vastos
para caberem nessa língua envergonhada
e esquizofrénica.
Era preciso traçar-lhe
novos horizontes.
Primeiro, então, abrimos
de par em par
as camadas dessa língua
e iluminamo-la com a nossa dor;
depois demos-lhe vida,
com a nossa alegria
e os nossos ritmos.
Nós libertámos a língua portuguesa
das amarras da opressão.
Por isso, hoje,
podemos falar todos
uns com os outros,
nessa nova língua
aberta, ensolarada e sem pecado
que a poetisa portuguesa
Sophia de Mello Breyner
julgou ter descoberto
no Brasil,
mas que um poeta angolano
reivindica
como um troféu de luta,
identidade
e criação.
segunda-feira, agosto 16, 2010
domingo, agosto 08, 2010
quarta-feira, agosto 04, 2010
PORTUGAL
A viagem a Portugal começou em abril, com a escolha do roteiro, cotação em agências de turismo e, depois de tudo acertado, com o pé no avião da TAP, restava-me sonhar e imaginar cada detalhe, os lugares que seriam visitados e o que iria na mala (câmeras fotográficas, principalmente).
As crianças pintaram mapas e a bandeira de Portugal. Ajudaram a montar o roteiro de forma mais detalhada e para isso navegaram na internet pela terra de Vasco da Gama e disseram que não abririam mão do Oceanário e do Zoológico de Lisboa. Partiram pelo Google Earth e pelo Via Michelin. Aprenderam rapidinho.
Os mapas ficaram por conta do André, mas poucos dias antes de partirmos, ele comprou o tom-tom, GPS que foi fundamental para o sucesso da nossa viagem, pois pegamos o carro em Porto e fomos para Santiago de Compostela, Coimbra e Lisboa, parando em outras pequenas cidades e seus monumentais castelos, sem maiores problemas.
Caminhávamos durante todo o dia, até às 20h (aproximadamente). Tomávamos um banho no hotel, com direito a meia hora de descanso e pé na rua novamente, para jantarmos e conhecermos um pouco mais de cada cidade. Foi cansativo, mas valeu a pena.
Porto tem a Ribeira, os ares do Douro e um sem número de bares e restaurantes à beira do rio. A cerveja desce fácil, pois a sensação térmica é de 40º, o céu azul, sem nuvens, belas paisagens e muita, muita sede, porque o clima é seco. Lábios e mucosas ressecadas, nenhuma gota de suor, um delicioso forno, afinal, em férias, a gente para, coloca soro fisiológico no nariz, uma Imperial na guela e pronto. Ah, não poderia deixar de mencionar o prato típico do Porto, a “francesinha”, uma espécie de sanduíche que se parece com lasanha, cujo recheio é variado (linguiça, salsicha, bife, ovo estrelado e o que mais você inventar, completamente coberto com mussarela e bastante molho de tomate ralinho por cima e em volta). É de comer rezando!
Atravessamos a ponte e já estávamos em Vila Nova de Gaia, onde saboreamos “aveiras' um tipo de linguiça recheada de caça, na “Taberninha do Manel”. Depois, fomos à cave Sandeman, degustar vinhos do porto e ouvir a sua história.
Partimos para Santiago de Compostela. No caminho, paramos em Guimarães, cidade onde nasceu Portugal, linda, cheia de restaurantes com suas terrazas, monumentos erguidos a dom Afonso Henriques, “o cara” que tornou seu país o primeiro estado unificado da Europa. Após, um pequeno passeio por Braga e, em seguida, Santiago.
No caminho de Santiago para Coimbra paramos em Aveiro, onde experimentamos as sardinhas com sal grosso na brasa e os famosos ovos moles. Na estrada, ouvimos as rádios portuguesas, comendo chocolates Lindt e Toblerone comprados nos “serviços” onde abastecíamos o carro com o frentista André.
A Universidade de Coimbra com a biblioteca Joanina deixou o André com vontade de fazer o mestrado na “terrinha” e a mim também, pois a faculdade de Letras é praticamente ao lado do prédio de Direito. À tarde conhecemos Conímbriga, as ruínas romanas do século I aC. E partimos para ver Portugal dos Pequenitos, um parque com todos os prédios famosos construídos em miniaturas, museus dos trajes e do mobiliário e prédios representando cada uma das colônias portuguesas. Foi a vez de Larissa e Rafaela aproveitarem.
No dia seguinte, partimos para Fátima. Depois, Leiria com seu castelo medieval, mas gostei mesmo foi do Mosteiro de Alcobaça, poder ver os túmulos de Pedro e Inês lembrando das aulas de Literatura Portuguesa. Aí, só mesmo um cálice de ginginha (licor típico a base de cerejas), mais cerveja e um maravilhoso sande (sanduíche) de atum, preparado por uma vendedora muito simpática, como todos os portugueses com quem conversamos. O auge desse dia foi outra cidade medieval: Óbidos. Linda! Caminhamos sobre suas muralhas, vendo as casinhas lá em baixo e plantações ao longe. Ao descermos, voltamos para o carro através das ruas estreitas, cheias de bares, restaurantes e algumas pousadas. Que vontade de pernoitar ali, mas ainda precisávamos chegar a Lisboa.
Nosso primeiro dia em Lisboa começou com o típico passeio à Torre de Belém, Padrão dos Descobrimentos e Mosteiro dos Jerônimos, sob um sol escaldante que só se punha às 9h da noite. Caminhamos demais, voltamos ao hotel para irmos a Cascais (Búzios dos alfacinhas) encontrar amigos brasileiros, mas, era uma sexta-feira, na hora do rush (que lá não costuma ser intensa) e houve um acidente na estrada que subitamente engarrafou as saídas de Lisboa. Resultado: voltamos para o hotel. Rapidinho um banho e rua! Fomos passear no Bairro Alto, Chiado, ver as pessoas, os bares cheios e o Rossio. Terminamos a noite no Fado Luso (comprei um cd autografado pelo cantor da casa).
Ah, não poderia deixar de falar do Oceanário de Lisboa. Lindo! Aquários de 7m de altura continham as várias espécies de plantas e peixes de cada um dos oceanos. Os pinguins, ao ar livre foram um show a parte, assim como a lontra. Larissa e Rafaela pareciam enfeitiçadas, brincando na casa do Vasco (mascote do oceanário), onde há reciclagem do lixo, economia de água e energia. De lá, fomos de teleférico ao Shopping Vasco da Gama e restaurantes do Parque das Nações. O passeio não parou por aí, afinal, acordamos cedo para ter um longo dia de descobertas. Seguimos para o Castelo de São Jorge e paramos um pouco por lá, deitados numa sombra. O calor continuava a torrar nossos miolos e nada melhor que uma Imperial bem gelada na varanda do Nicola, restaurante tradicional do Rossio, para hidratar nossas gargantas e “molhar a palavra".
Estoril, Cascais e Sintra – passeio do penúltimo dia em Portugal. Pegamos o carro e partimos à beira-mar (optamos por não seguir pela via rápida). Paradinha básica no Casino, fotos, uma voltinha pela cidade e tomamos a direção de Cascais, onde almoçamos e conhecemos a “Boca do inferno” de charrete. Mais uma vez, o sol não nos poupou e foi até desconfortável sentir aquele calor seco o tempo inteiro. À tardinha chegamos a Sintra, onde visitamos o Castelo da Pena, uma bela construção com influência árabe, mais recente, com os aposentos repletos de móveis e objetos de decoração dos últimos anos da monarquia.
Último dia, snif, snif. Fomos direto para a Casa Fernando Pessoa. O quarto e o gabinete estavam decorados como se fossem do heterônimo Ricardo Reis, o médico nascido no Porto e que viveu no Brasil durante um tempo. Esses ambientes são modificados periodicamente, dependendo do heterônimo que lá está a morar. Depois, fomos sentir mais um pouco o movimento do Chiado, almoçamos em Belém e compramos os famosos pastéis para trazer ao Brasil. Como o zoo só fechava às 20h, para lá nos dirigimos, afinal, as meninas queriam assistir ao show dos golfinhos. Conseguimos. Foi ótimo, apesar de cansados, termos ido até lá. Só não encarei mais um teleférico pois iria me desmanchar de tanto calor naquela cadeirinha. Fechamos o dia e a viagem com chave de ouro: jantamos um leitão à bairrada num restaurante próximo ao hotel.
Posso dizer que gostei imenso de Portugal. Ver a escultura do Fernando Pessoa no “A brasileira” me emocionou. Encontrar a livraria “Lello e irmão” no Porto, tudo como eu havia sonhado, foi demais! Seria impossível colocar no papel todas as impressões dessa viagem, mencionar os lugares e momentos que vivemos, no real sentido da palavra.
Foi a nossa terceira vez na Europa e primeira das nossas miúdas (ou “putinhas cómicas”). Elas encararam tudo! Alimentaram-se bem e caminharam à beça. Rafa voltou com calos e bolhas nos pés. O prazer do olhar inaugural superou o desgaste físico.
O livro “O português que nos pariu” (Angela D. De Meneses), assim como o guia da Publifolha, deram uma ajuda na parte histórica, assim como as recentes aulas de filologia do querido Professor Cláudio C. Henriques.
Ruas limpas, estradas perfeitas, pedágios justos, sinalização, respeito ao pedestre e trânsito organizado. Tranquilidade ao caminhar pelas ruas durante a madrugada, com máquinas fotográficas a vista (impagável). Resultado: não vou mais conseguir contar anedotas “de português”, pois a verdade é que nós, brasileiros, somos uma verdadeira piada (infelizmente).
Ah, já ia esquecendo de dizer que, em comparação com o Brasil, o preço do táxi na terrinha é barato e os motoristas conhecem cada monumento e a história das cidades, além de sentirem orgulho de contá-la. Mais um ponto para eles!
A comida é deliciosa e bem servida. O vinho é o nacional (sem comentários). Com a cerveja a gente se habitua fácil. Pode-se pedir a Imperial ou a Super Boch, bem geladas. TDB. Adorei!
As crianças pintaram mapas e a bandeira de Portugal. Ajudaram a montar o roteiro de forma mais detalhada e para isso navegaram na internet pela terra de Vasco da Gama e disseram que não abririam mão do Oceanário e do Zoológico de Lisboa. Partiram pelo Google Earth e pelo Via Michelin. Aprenderam rapidinho.
Os mapas ficaram por conta do André, mas poucos dias antes de partirmos, ele comprou o tom-tom, GPS que foi fundamental para o sucesso da nossa viagem, pois pegamos o carro em Porto e fomos para Santiago de Compostela, Coimbra e Lisboa, parando em outras pequenas cidades e seus monumentais castelos, sem maiores problemas.
Caminhávamos durante todo o dia, até às 20h (aproximadamente). Tomávamos um banho no hotel, com direito a meia hora de descanso e pé na rua novamente, para jantarmos e conhecermos um pouco mais de cada cidade. Foi cansativo, mas valeu a pena.
Porto tem a Ribeira, os ares do Douro e um sem número de bares e restaurantes à beira do rio. A cerveja desce fácil, pois a sensação térmica é de 40º, o céu azul, sem nuvens, belas paisagens e muita, muita sede, porque o clima é seco. Lábios e mucosas ressecadas, nenhuma gota de suor, um delicioso forno, afinal, em férias, a gente para, coloca soro fisiológico no nariz, uma Imperial na guela e pronto. Ah, não poderia deixar de mencionar o prato típico do Porto, a “francesinha”, uma espécie de sanduíche que se parece com lasanha, cujo recheio é variado (linguiça, salsicha, bife, ovo estrelado e o que mais você inventar, completamente coberto com mussarela e bastante molho de tomate ralinho por cima e em volta). É de comer rezando!
Atravessamos a ponte e já estávamos em Vila Nova de Gaia, onde saboreamos “aveiras' um tipo de linguiça recheada de caça, na “Taberninha do Manel”. Depois, fomos à cave Sandeman, degustar vinhos do porto e ouvir a sua história.
Partimos para Santiago de Compostela. No caminho, paramos em Guimarães, cidade onde nasceu Portugal, linda, cheia de restaurantes com suas terrazas, monumentos erguidos a dom Afonso Henriques, “o cara” que tornou seu país o primeiro estado unificado da Europa. Após, um pequeno passeio por Braga e, em seguida, Santiago.
No caminho de Santiago para Coimbra paramos em Aveiro, onde experimentamos as sardinhas com sal grosso na brasa e os famosos ovos moles. Na estrada, ouvimos as rádios portuguesas, comendo chocolates Lindt e Toblerone comprados nos “serviços” onde abastecíamos o carro com o frentista André.
A Universidade de Coimbra com a biblioteca Joanina deixou o André com vontade de fazer o mestrado na “terrinha” e a mim também, pois a faculdade de Letras é praticamente ao lado do prédio de Direito. À tarde conhecemos Conímbriga, as ruínas romanas do século I aC. E partimos para ver Portugal dos Pequenitos, um parque com todos os prédios famosos construídos em miniaturas, museus dos trajes e do mobiliário e prédios representando cada uma das colônias portuguesas. Foi a vez de Larissa e Rafaela aproveitarem.
No dia seguinte, partimos para Fátima. Depois, Leiria com seu castelo medieval, mas gostei mesmo foi do Mosteiro de Alcobaça, poder ver os túmulos de Pedro e Inês lembrando das aulas de Literatura Portuguesa. Aí, só mesmo um cálice de ginginha (licor típico a base de cerejas), mais cerveja e um maravilhoso sande (sanduíche) de atum, preparado por uma vendedora muito simpática, como todos os portugueses com quem conversamos. O auge desse dia foi outra cidade medieval: Óbidos. Linda! Caminhamos sobre suas muralhas, vendo as casinhas lá em baixo e plantações ao longe. Ao descermos, voltamos para o carro através das ruas estreitas, cheias de bares, restaurantes e algumas pousadas. Que vontade de pernoitar ali, mas ainda precisávamos chegar a Lisboa.
Nosso primeiro dia em Lisboa começou com o típico passeio à Torre de Belém, Padrão dos Descobrimentos e Mosteiro dos Jerônimos, sob um sol escaldante que só se punha às 9h da noite. Caminhamos demais, voltamos ao hotel para irmos a Cascais (Búzios dos alfacinhas) encontrar amigos brasileiros, mas, era uma sexta-feira, na hora do rush (que lá não costuma ser intensa) e houve um acidente na estrada que subitamente engarrafou as saídas de Lisboa. Resultado: voltamos para o hotel. Rapidinho um banho e rua! Fomos passear no Bairro Alto, Chiado, ver as pessoas, os bares cheios e o Rossio. Terminamos a noite no Fado Luso (comprei um cd autografado pelo cantor da casa).
Ah, não poderia deixar de falar do Oceanário de Lisboa. Lindo! Aquários de 7m de altura continham as várias espécies de plantas e peixes de cada um dos oceanos. Os pinguins, ao ar livre foram um show a parte, assim como a lontra. Larissa e Rafaela pareciam enfeitiçadas, brincando na casa do Vasco (mascote do oceanário), onde há reciclagem do lixo, economia de água e energia. De lá, fomos de teleférico ao Shopping Vasco da Gama e restaurantes do Parque das Nações. O passeio não parou por aí, afinal, acordamos cedo para ter um longo dia de descobertas. Seguimos para o Castelo de São Jorge e paramos um pouco por lá, deitados numa sombra. O calor continuava a torrar nossos miolos e nada melhor que uma Imperial bem gelada na varanda do Nicola, restaurante tradicional do Rossio, para hidratar nossas gargantas e “molhar a palavra".
Estoril, Cascais e Sintra – passeio do penúltimo dia em Portugal. Pegamos o carro e partimos à beira-mar (optamos por não seguir pela via rápida). Paradinha básica no Casino, fotos, uma voltinha pela cidade e tomamos a direção de Cascais, onde almoçamos e conhecemos a “Boca do inferno” de charrete. Mais uma vez, o sol não nos poupou e foi até desconfortável sentir aquele calor seco o tempo inteiro. À tardinha chegamos a Sintra, onde visitamos o Castelo da Pena, uma bela construção com influência árabe, mais recente, com os aposentos repletos de móveis e objetos de decoração dos últimos anos da monarquia.
Último dia, snif, snif. Fomos direto para a Casa Fernando Pessoa. O quarto e o gabinete estavam decorados como se fossem do heterônimo Ricardo Reis, o médico nascido no Porto e que viveu no Brasil durante um tempo. Esses ambientes são modificados periodicamente, dependendo do heterônimo que lá está a morar. Depois, fomos sentir mais um pouco o movimento do Chiado, almoçamos em Belém e compramos os famosos pastéis para trazer ao Brasil. Como o zoo só fechava às 20h, para lá nos dirigimos, afinal, as meninas queriam assistir ao show dos golfinhos. Conseguimos. Foi ótimo, apesar de cansados, termos ido até lá. Só não encarei mais um teleférico pois iria me desmanchar de tanto calor naquela cadeirinha. Fechamos o dia e a viagem com chave de ouro: jantamos um leitão à bairrada num restaurante próximo ao hotel.
Posso dizer que gostei imenso de Portugal. Ver a escultura do Fernando Pessoa no “A brasileira” me emocionou. Encontrar a livraria “Lello e irmão” no Porto, tudo como eu havia sonhado, foi demais! Seria impossível colocar no papel todas as impressões dessa viagem, mencionar os lugares e momentos que vivemos, no real sentido da palavra.
Foi a nossa terceira vez na Europa e primeira das nossas miúdas (ou “putinhas cómicas”). Elas encararam tudo! Alimentaram-se bem e caminharam à beça. Rafa voltou com calos e bolhas nos pés. O prazer do olhar inaugural superou o desgaste físico.
O livro “O português que nos pariu” (Angela D. De Meneses), assim como o guia da Publifolha, deram uma ajuda na parte histórica, assim como as recentes aulas de filologia do querido Professor Cláudio C. Henriques.
Ruas limpas, estradas perfeitas, pedágios justos, sinalização, respeito ao pedestre e trânsito organizado. Tranquilidade ao caminhar pelas ruas durante a madrugada, com máquinas fotográficas a vista (impagável). Resultado: não vou mais conseguir contar anedotas “de português”, pois a verdade é que nós, brasileiros, somos uma verdadeira piada (infelizmente).
Ah, já ia esquecendo de dizer que, em comparação com o Brasil, o preço do táxi na terrinha é barato e os motoristas conhecem cada monumento e a história das cidades, além de sentirem orgulho de contá-la. Mais um ponto para eles!
A comida é deliciosa e bem servida. O vinho é o nacional (sem comentários). Com a cerveja a gente se habitua fácil. Pode-se pedir a Imperial ou a Super Boch, bem geladas. TDB. Adorei!
terça-feira, agosto 03, 2010
POETAS PORTUGUESES
Chamo-Te porque tudo está ainda no princípio
E suportar é o tempo mais comprido.
Peço-Te que venhas e me dês a liberdade,
Que um só dos teus olhares me purifique e acabe.
Há muitas coisas que eu quero ver.
Peço-Te que sejas o presente.
Peço-Te que inundes tudo.
E que o teu reino antes do tempo venha.
E se derrame sobre a Terra
Em primavera feroz pricipitado.
Sophia de Mello Breyner Andresen
Eis-me
Eis-me
Tendo-me despido de todos os meus mantos
Tendo-me separado de adivinhos mágicos e deuses
Para ficar sózinha ante o silêncio
Ante o silêncio e o esplendor da tua face
Mas tu és de todos os ausentes o ausente
Nem o teu ombro me apoia nem a tua mão me toca
O meu coração desce as escadas do tempo em que não moras
E o teu encontro
São planícies e planícies de silêncio
Escura é a noite
Escura e transparente
Mas o teu rosto está para além do tempo opaco
E eu não habito os jardins do teu silêncio
Porque tu és de todos os ausentes o ausente
Sophia de Mello Breyner Andresen
Cântico Negro
"Vem por aqui" - dizem-me alguns com os olhos doces
Estendendo-me os braços, e seguros
De que seria bom que eu os ouvisse
Quando me dizem: "vem por aqui!"
Eu olho-os com olhos lassos,
(Há, nos olhos meus, ironias e cansaços)
E cruzo os braços,
E nunca vou por ali...
A minha glória é esta:
Criar desumanidade!
Não acompanhar ninguém.
- Que eu vivo com o mesmo sem-vontade
Com que rasguei o ventre à minha mãe
Não, não vou por aí! Só vou por onde
Me levam meus próprios passos...
Se ao que busco saber nenhum de vós responde
Por que me repetis: "vem por aqui!"?
Prefiro escorregar nos becos lamacentos,
Redemoinhar aos ventos,
Como farrapos, arrastar os pés sangrentos,
A ir por aí...
Se vim ao mundo, foi
Só para desflorar florestas virgens,
E desenhar meus próprios pés na areia inexplorada!
O mais que faço não vale nada.
Como, pois sereis vós
Que me dareis impulsos, ferramentas e coragem
Para eu derrubar os meus obstáculos?...
Corre, nas vossas veias, sangue velho dos avós,
E vós amais o que é fácil!
Eu amo o Longe e a Miragem,
Amo os abismos, as torrentes, os desertos...
Ide! Tendes estradas,
Tendes jardins, tendes canteiros,
Tendes pátria, tendes tectos,
E tendes regras, e tratados, e filósofos, e sábios...
Eu tenho a minha Loucura !
Levanto-a, como um facho, a arder na noite escura,
E sinto espuma, e sangue, e cânticos nos lábios...
Deus e o Diabo é que guiam, mais ninguém.
Todos tiveram pai, todos tiveram mãe;
Mas eu, que nunca principio nem acabo,
Nasci do amor que há entre Deus e o Diabo.
Ah, que ninguém me dê piedosas intenções!
Ninguém me peça definições!
Ninguém me diga: "vem por aqui"!
A minha vida é um vendaval que se soltou.
É uma onda que se alevantou.
É um átomo a mais que se animou...
Não sei por onde vou,
Não sei para onde vou
- Sei que não vou por aí!
José Régio
Os Versos Que Te Fiz
Deixa dizer-te os lindos versos raros
Que a minha boca tem pra te dizer !
São talhados em mármore de Paros
Cinzelados por mim pra te oferecer.
Têm dolência de veludos caros,
São como sedas pálidas a arder ...
Deixa dizer-te os lindos versos raros
Que foram feitos pra te endoidecer !
Mas, meu Amor, eu não tos digo ainda ...
Que a boca da mulher é sempre linda
Se dentro guarda um verso que não diz !
Amo-te tanto ! E nunca te beijei ...
E nesse beijo, Amor, que eu te não dei
Guardo os versos mais lindos que te fiz!
Florbela Espanca
E suportar é o tempo mais comprido.
Peço-Te que venhas e me dês a liberdade,
Que um só dos teus olhares me purifique e acabe.
Há muitas coisas que eu quero ver.
Peço-Te que sejas o presente.
Peço-Te que inundes tudo.
E que o teu reino antes do tempo venha.
E se derrame sobre a Terra
Em primavera feroz pricipitado.
Sophia de Mello Breyner Andresen
Eis-me
Eis-me
Tendo-me despido de todos os meus mantos
Tendo-me separado de adivinhos mágicos e deuses
Para ficar sózinha ante o silêncio
Ante o silêncio e o esplendor da tua face
Mas tu és de todos os ausentes o ausente
Nem o teu ombro me apoia nem a tua mão me toca
O meu coração desce as escadas do tempo em que não moras
E o teu encontro
São planícies e planícies de silêncio
Escura é a noite
Escura e transparente
Mas o teu rosto está para além do tempo opaco
E eu não habito os jardins do teu silêncio
Porque tu és de todos os ausentes o ausente
Sophia de Mello Breyner Andresen
Cântico Negro
"Vem por aqui" - dizem-me alguns com os olhos doces
Estendendo-me os braços, e seguros
De que seria bom que eu os ouvisse
Quando me dizem: "vem por aqui!"
Eu olho-os com olhos lassos,
(Há, nos olhos meus, ironias e cansaços)
E cruzo os braços,
E nunca vou por ali...
A minha glória é esta:
Criar desumanidade!
Não acompanhar ninguém.
- Que eu vivo com o mesmo sem-vontade
Com que rasguei o ventre à minha mãe
Não, não vou por aí! Só vou por onde
Me levam meus próprios passos...
Se ao que busco saber nenhum de vós responde
Por que me repetis: "vem por aqui!"?
Prefiro escorregar nos becos lamacentos,
Redemoinhar aos ventos,
Como farrapos, arrastar os pés sangrentos,
A ir por aí...
Se vim ao mundo, foi
Só para desflorar florestas virgens,
E desenhar meus próprios pés na areia inexplorada!
O mais que faço não vale nada.
Como, pois sereis vós
Que me dareis impulsos, ferramentas e coragem
Para eu derrubar os meus obstáculos?...
Corre, nas vossas veias, sangue velho dos avós,
E vós amais o que é fácil!
Eu amo o Longe e a Miragem,
Amo os abismos, as torrentes, os desertos...
Ide! Tendes estradas,
Tendes jardins, tendes canteiros,
Tendes pátria, tendes tectos,
E tendes regras, e tratados, e filósofos, e sábios...
Eu tenho a minha Loucura !
Levanto-a, como um facho, a arder na noite escura,
E sinto espuma, e sangue, e cânticos nos lábios...
Deus e o Diabo é que guiam, mais ninguém.
Todos tiveram pai, todos tiveram mãe;
Mas eu, que nunca principio nem acabo,
Nasci do amor que há entre Deus e o Diabo.
Ah, que ninguém me dê piedosas intenções!
Ninguém me peça definições!
Ninguém me diga: "vem por aqui"!
A minha vida é um vendaval que se soltou.
É uma onda que se alevantou.
É um átomo a mais que se animou...
Não sei por onde vou,
Não sei para onde vou
- Sei que não vou por aí!
José Régio
Os Versos Que Te Fiz
Deixa dizer-te os lindos versos raros
Que a minha boca tem pra te dizer !
São talhados em mármore de Paros
Cinzelados por mim pra te oferecer.
Têm dolência de veludos caros,
São como sedas pálidas a arder ...
Deixa dizer-te os lindos versos raros
Que foram feitos pra te endoidecer !
Mas, meu Amor, eu não tos digo ainda ...
Que a boca da mulher é sempre linda
Se dentro guarda um verso que não diz !
Amo-te tanto ! E nunca te beijei ...
E nesse beijo, Amor, que eu te não dei
Guardo os versos mais lindos que te fiz!
Florbela Espanca
Assinar:
Postagens (Atom)