domingo, setembro 26, 2010

As linguagens de Fabrício Carpinejar

O cronista e poeta Fabrício Carpinejar tem dois novos rebentos nas livrarias: Mulher perdigueira – crônicas e www.twitter.com/carpinejar, ambos editados pela Bertrand Brasil. É interessante observar não só os gêneros pelos quais passeia, flanando da prosa à poesia, como também entre as linguagens utilizadas na internet, por meio dos seus blogues, onde associa texto e imagem -http://www.fabriciocarpinejar.blogger.com.br/, http://carpinejar.blogspot.com/, http://www.bloglog.globo.com/fabriciocarpinejar (Consultório poético) e www.rolocompressor.zip.net (Futebol é literatura) - ou no microblogue twitter, limitado a 140 caracteres por post, no site http://www.carpinejar.com.br.

O autor é escritor, jornalista, professor universitário e autor de dezesseis livros. Declara-se um “ouvinte declarado da chuva e um leitor apaixonado do sol”. Para falar das suas linguagens nos deteremos aos espaços da web, ao livro de poesias Como no céu/Livro de visitas (2005), além dos seus lançamentos.

Em Mulher perdigueira o autor escreve com sensualidade e é minimalista, no sentido de ampliar a essência do que é realmente importante, ligando-se aos detalhes dos relacionamentos amorosos, o que aparece nitidamente na crônica Pratinho do vaso, quando diz “Eu me sinto essencial lembrando do desnecessário. Ouvindo o suspiro do vento (...) . O pratinho do vaso no relacionamento está em saber o xampu que ela usa, o restaurante preferido, o doce da infância (...). O pratinho do vaso é o que fica da tempestade. Não tinha como explicar ao vendedor. Ele é que conhece as flores”.

O livro de poesias lançado em 2005 pode ser visto como dois, ou seja, com a lombada virada para o lado esquerdo é Como no céu, com 120 páginas. Já com a lombada do lado direito é Livro de visitas, com 104 páginas. O primeiro tem a orelha do Millôr Fernandes e o segundo, de Manoel da Costa Pinto. Carpinejar não tem medo de ser autobiográfico. Alonga-se em alguns poemas, outros são como haicais. Nessa obra há vários que poderiam ser twittados, diante da agudeza e do número de palavras que reverberam, permanecem em nossas mentes. “Sou muito dividido/para me reunir no domingo/ em família”.

No blog Consultório poético, Fabrício recebe e responde e-mails com dúvidas amorosas, comentando relacionamentos. A partir dessa faceta que foge ao psicologismo, arremessa palavras à tela do computador e é enfático: “Em todo conto de fadas existe uma bruxa. Não é possível expurgá-la do nosso cotidiano. Se o encontro fosse para amanhã, tudo bem, mas cinco anos é o mesmo que planejar a aposentadoria”.

No blogue Rolo compressor, Carpinejar ataca de cronista esportivo: “Teve sangue, expulsão, susto no início, touca de natação, virada histórica. A noite de quarta (18/8) contou com o sangramento do crepúsculo que avançou ao raiar do dia. Uma glória centenária arrebentou a garganta de mais de 50 mil fieis no Beira-Rio e concedeu a Celso Roth o primeiro título de expressão em sua carreira (repetindo Abel Braga)”, comentando o jogo que deu ao Inter a Taça Libertadores da América 2010.

Já no twitter, Carpinejar é um frasista excepcional. Não esqueçamos do limitado número de caracteres. No entanto, ele acerta o alvo com apenas uma bala, a única de que dispõe no tambor da sua pistola. Impossível fazer uso de uma metralhadora, então ele dispara: “Literatura é educar para o avesso. Quando educa para o conhecido, já é sermão” ou “O Twitter é um torpedo que a gente manda a si mesmo. E vai respondendo”. Clica tweet e compartilha pensamentos com seus folowers.

Vale a pena acompanhar esse escritor, apreciando suas diversas formas de escrever, a linguagem variada que se adequa ao meio de propagação, seja na web ou nos livros. Não é à toa que ele já tem 62.577 seguidores no twitter e 3.169 visitantes no seu blogue mais recente (blogspot), e isso apenas por enquanto, já que os números aumentam diariamente. “Liberdade na vida é ter um amor para se prender”.

Christiane Reis

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