segunda-feira, setembro 15, 2008

Minúsculos Assassinatos e Alguns Copos de Leite (200 páginas, Rocco)




O livro da Fal Azevedo - narrado em primeira pessoa – é recheado de receitas culinárias (doces, salgados e drinques), saltando constantemente entre o presente e o passado da personagem principal, do início ao fim, alternando, porém, o tipo e o tamanho da letra, possivelmente com o objetivo de situar o leitor.

A protagonista se chama Alma, artista plástica, 44 anos, moradora de um bairro pobre, localizado em região de veraneio. Vive acompanhada dos seus animais de estimação: cães e gatos encontrados na rua, além de um jabuti. A história contém inúmeros retornos à infância, e às figuras familiares. Alma pinta, dá algumas aulas e leva uma vida simples, solitária. Conta com a amizade de um vizinho idoso, seu Lurdiano, e com os contatos realizados através de e-mails e telefonemas.

Inicialmente, estranhei o livro, pois havia acabado de ler O coração é um caçador solitário (Carson M.), um clássico da literatura americana - década de 40, do século XX – e um grande romance. Ora, uma comparação impossível. Seria injusto não dar chance ao novo. Depois, fui acostumando com a modernidade da história entremeada de e-mails e comentários engraçados. Quando me dei conta, a casa da Alma já estava desenhada em minha mente, permeada de detalhes: a cozinha, as telas espalhadas pela sala, as brigas e o carinho entre os bichinhos de estimação, o quintal e, principalmente, o cheiro dos bolos do seu Lurdiano, assim como as cores dos panos-de-prato que os cobriam. Sentia até vontade de fazer um cafezinho...

Os capítulos têm nomes como “Hortelã”, “Chocolate” e “Rosquinhas fritas”. Alma está acima do peso, é solteira, mas não tem nada a ver com Bridget Jones. É profunda em suas reflexões e firme no sentido de não mudar o próprio jeito de ser. Enfim, tem um passado que “pesa no banco de trás do carro”.

O final da história não chega perto daqueles típicos de romances água com açúcar. Tampouco é surpreendente, mas fica próximo à realidade. Com certeza, há muitas Almas andando pelas ruas, trabalhando ou fazendo compras no supermercado.

Gostei do terceiro livro publicado por essa autora e do blog (Drops da Fal), ao qual fiz uma visita, após ter lido a crônica da Cora Rónai. Leiam e curtam o blog, pois são viagens que valem a pena.

Segue trecho da página 120:

“A Justificativa e a explicação possibilitam que nos afastemos da dor. O interpretacionismo acaba sendo tão alienante quanto qualquer outro mecanismo de defesa. E inventar palavras gigantes pode não resolver, mas ajuda pra cacete.”

Um comentário:

Anônimo disse...

leio a fal há algum tempo no blog, adoro a escrita dela... como sócia de sua biblioteca, tô na fila para ler o livro. Quanto ao meu blog, foi-se. Exclui por falta de tempo e de saco. voltei do congresso com algumas idéias e com a alma lavada e enxaguada de mar e sol e vento de natal. beijos
val