adj. s.m. FARM 1 que ou o que combate os efeitos de uma toxina ou veneno (diz-se de substância, medicamento, soro). s.m. 2 p.ext. o que evita ou corrige (vício, defeito, estado de depressão psicológica, paixão etc.); corretivo, remédio. ETIM lat. antidôtum,i'id.', do gr. antidoton, ou 'id'. Dicionário Houaiss
terça-feira, agosto 18, 2009
quarta-feira, agosto 12, 2009
O CLUBE DO FILME (LEITURA ATUAL)
SINOPSE
"Eram tempos difíceis para David Gilmour: sem trabalho fixo, com o dinheiro contado e o filho de 15 anos colecionando reprovações em todas as matérias do ensino médio. O autor, diante da falência, da desorientação e da infelicidade do filho-problema, faz uma oferta fora dos padrões: o garoto poderia sair da escola – e ficar sem trabalhar e sem pagar aluguel – desde que assistisse semanalmente a três filmes escolhidos por ele, o pai.
A aposta diferente resultou no Clube do Filme. Semana a semana, pai e filho viam e discutiam o melhor (e, ocasionalmente, o pior) do cinema: de A Doce Vida (o clássico de Federico Fellini) a Instinto Selvagem (o thriller sensual estrelado por Sharon Stone); de Os Reis do Iê, Iê, Iê (hit cinematográfico da Beatlemania) a O Iluminado (interpretação primorosa da Jack Nicholson, dirigido por Stanley Kubrick); de O Poderoso Chefão (um dos integrantes das listas de "melhores filmes de todos os tempos") a Amores Expressos (cult romântico e contemporâneo do coreano Wong KarWay).
David Gilmour, crítico de cinema e escritor premiado, oferece uma percepção singular sobre filmes, roteiros, diretores e atores inesquecíveis ao relatar essa vivência com olho clínico e muita sinceridade. E emociona ao mostrar aos leitores a descoberta da vida adulta pelos olhos de um jovem e os dilemas da adolescência administrados por um pai muito presente".
EXPLICAÇÃO DOS PÁSSSAROS (ANTÓNIO LOBO ANTUNES)
"Publicado em 1981, Explicação dos Pássaros é um rompimento com a trilogia sobre a guerra colonial em Angola com que se sagrou no mapa literário português. Não há mais as lembranças fantasmais dos cadáveres, a geografia sensual de Luanda crivada de violência, a incapacidade do ex-combatente em retornar ao mundo cotidiano anterior. Explicação avança sobre as agruras da vida conjugal. Rui, o narrador, amarga uma recente separação dolorosa e tenta reconstruir sua vida ao lado de uma nova mulher com quem se casou por um desejo de preencher sua solidão.
Ao contrário da imensa maioria dos romances de Antunes, essa é uma narrativa de personagens em movimento: Rui monologa enquanto avança com seu carro por cidades costeiras de Portugal. Está sensibilizado com a doença da mãe e evoca sua infância e sua vida enquanto reúne forças para pedir divórcio da esposa que não ama. O livro é um grande ritual de adeuses, e o desconforto crescente de Rui aponta apenas para um final possível. E trágico.
Como em outros livros de Antunes, a trama é pífia. As coisas não acontecem; o que acontece é o pensamento das personagens. Possuem uma fluência delirante, e há uma inegável vocação poética em Antunes. Em certos momentos, no entanto, as imagens aberrantes não ajudam muito a visualizar a narrativa. É como se a profusão de metáforas nublasse o enredo.
Ainda seriam necessários alguns romances para Antunes encontrar uma forma narrativa que adéqüe sua sensibilidade poética a uma plasticidade necessária para sua íntegra legibilidade. Antes de A Ordem Natural das Coisas (1992), muitos de seus romances flertavam com o hermetismo. É de se perguntar: de quê adianta um universo ficcional denso se o leitor não encontra nele um espaço mínimo para contemplá-lo?"
VINICIUS JATOBÁ - www.ala.nletras.com/livros/explicacao_dos_passaros.htm
Li a resenha e concordei com ela, por isso a transcrevi. Inicialmente, apaixonei-me por Lobo Antunes, ouvindo-o durante a FLIP e lendo suas inúmeras entrevistas. Quis, então, mergulhar em sua obra e comecei pela "Explicação dos pássaros". Realmente, as metáforas são belas, o problema é que são inúmeras. Os diálogos são repetitivos e quando achamos que algo irá acontecer, dá-se uma ruptura, uma volta ao passado, a voz de outra pessoa comentando assunto totalmente diferente, e tudo isso no mesmo parágrafo.
Lobo Antunes apresenta uma nova forma de escrever, de criar, fazer literatura e causar o tão cultuado estranhamento, mas de forma cansativa. É complicado externar um pensamento assim a respeito de um livro duplamente premiado, de autor festejado pelos leitores e agraciado pela crítica. Por isso, pretendo ler outro livro do António L.A., e também por estar inconformada com o fato de não ter sentido pela obra o mesmo que experimentei quanto ao seu criador.
O FILHO DA MÃE (3ª POSTAGEM)
Comecei a ler “O filho da mãe” e, logo depois, fui para a FLIP, quando assisti a mesa da qual o Bernardo Carvalho, autor da obra, participou. Achei-o pedante, grosseiro, enfim, fiquei com uma impressão negativa a seu respeito. Minha vontade era a de deixar o livro de lado, mas... continuei. Já havia lido “Mongólia” e, simplesmente, gostado - não foi um livro que marcou -, ainda assim, resolvi que iria até o final do romance, no que fiz muito bem.
A escrita do Bernardo Carvalho em “O filho da mãe” causa um certo estranhamento. Parecem contos, mas a partir da metade do livro os personagens vão se interligando, as histórias de cada um se conectando e o leitor sendo surpreendido a cada capítulo. É um romance denso, emocionante, histórico, e o desenvolvimento da trama acontece de forma diferente, nada linear, culminando com o mito da quimera, aberração rejeitada pelo ser humano, mas não pelo ser que a gerou: a mãe, figura abordada durante todo o romance sob a temática da guerra.
O FILHO DA MÃE (2ª POSTAGEM)
SINOPSE
"Em O filho da mãe, Bernardo Carvalho orquestra uma multiplicidade de vozes e pontos de vista, sem nunca perder de foco o motivo recorrente da maternidade, imbricado com o seu avesso: o sentimento de orfandade, de desamparo e desajuste, cuja representação mais crua é a guerra. “As mães têm mais a ver com a guerra do que imaginam”, diz a certa altura uma personagem. O livro, de certo modo, é a demonstração poética disso.
Embora o pano de fundo da história seja a segunda guerra da Tchetchênia, em 2003, Carvalho volta-se neste romance à figura da mãe, ao tema da maternidade. Serão as mães, moduladas e refratadas nas diversas histórias que aqui se entrelaçam, o fio condutor de uma trama singular, cujo resultado vem confirmar a posição do autor entre um dos mais originais e inovadores da literatura brasileira contemporânea.
São Petersburgo, cidade literária por excelência, é o epicentro da tragédia. Mas, como costuma acontecer nos livros de Bernardo Carvalho, a ação se expande vertiginosamente no tempo e no espaço. Do Oiapoque ao Nieva, de Grozni ao mar do Japão, chegam os estilhaços desses dramas nucleares de mães culpadas, filhos extraviados e pais tirânicos ou ausentes. Todas as personagens parecem, em alguma medida, estar fora do lugar, em famílias e países alheios — daí a força que adquire, no contexto, a figura monstruosa da quimera, aberração rejeitada pela natureza e pelo homem.
Romance de alta voltagem emocional, sem prejuízo do viés crítico e da complexidade da construção narrativa, O filho da mãe é um passo à frente na literatura sempre inquieta e surpreendente de Bernardo Carvalho".
"Em O filho da mãe, Bernardo Carvalho orquestra uma multiplicidade de vozes e pontos de vista, sem nunca perder de foco o motivo recorrente da maternidade, imbricado com o seu avesso: o sentimento de orfandade, de desamparo e desajuste, cuja representação mais crua é a guerra. “As mães têm mais a ver com a guerra do que imaginam”, diz a certa altura uma personagem. O livro, de certo modo, é a demonstração poética disso.
Embora o pano de fundo da história seja a segunda guerra da Tchetchênia, em 2003, Carvalho volta-se neste romance à figura da mãe, ao tema da maternidade. Serão as mães, moduladas e refratadas nas diversas histórias que aqui se entrelaçam, o fio condutor de uma trama singular, cujo resultado vem confirmar a posição do autor entre um dos mais originais e inovadores da literatura brasileira contemporânea.
São Petersburgo, cidade literária por excelência, é o epicentro da tragédia. Mas, como costuma acontecer nos livros de Bernardo Carvalho, a ação se expande vertiginosamente no tempo e no espaço. Do Oiapoque ao Nieva, de Grozni ao mar do Japão, chegam os estilhaços desses dramas nucleares de mães culpadas, filhos extraviados e pais tirânicos ou ausentes. Todas as personagens parecem, em alguma medida, estar fora do lugar, em famílias e países alheios — daí a força que adquire, no contexto, a figura monstruosa da quimera, aberração rejeitada pela natureza e pelo homem.
Romance de alta voltagem emocional, sem prejuízo do viés crítico e da complexidade da construção narrativa, O filho da mãe é um passo à frente na literatura sempre inquieta e surpreendente de Bernardo Carvalho".
O FILHO DA MÃE (1ª POSTAGEM)
Bernardo Carvalho recorre a trama "operística" para abordar amor
EDUARDO SIMÕES
da Folha de S.Paulo
Em 2007, durante o mês que passou em São Petersburgo para escrever uma história de amor sob encomenda do projeto "Amores Expressos", o escritor Bernardo Carvalho descobriu um romance russo, de fortes tintas melodramáticas, que acabou ecoando em seu recém-lançado "O Filho da Mãe". Leia mais.
À época, uma adaptação do tal livro --"Vida e Destino", de Vassili Grossman (1905-1964)-- estava em cartaz na cidade russa. Como não havia legendas, Carvalho não viu a peça, mas acabou achando uma edição do livro em espanhol, na feira do livro de Santiago, no Chile, após sua volta ao Brasil.
O enredo de Grossman -que fala, entre outras coisas, de uma mãe forçada a despedir-se do filho e do amor de uma jovem, em meio à Segunda Guerra- guardava coincidências com a trama que Carvalho tinha em mente: uma história de amor (aqui, entre dois homens) e uma reflexão sobre o amor maternal e sua relação com a guerra, inspiração que o autor teve quando, em suas pesquisas, soube do Comitê das Mães dos Soldados, que ajuda jovens enviados à Tchechênia.
O sentimentalismo de Grossman, que pairava como um fantasma sobre Carvalho, ganhou força no livro com a opção por um narrador na terceira pessoa, novidade em sua obra: "Permitiu-me não estar em personagem nenhum e descrever seus sentimentos como coisas externas", conta o autor, que buscou uma organização de enredo que fosse "operística", apesar da escrita "seca".
"A trama vai se desenvolvendo até estourar em uma espécie de desenlace trágico. Quase imagino um negócio cantado."
Antes mesmo de chegar à Rússia, Carvalho já sabia que, por conhecer pouco o país, queria um olhar estrangeiro --Ruslan, um dos protagonistas, é do Cáucaso, e o outro, Andrei, filho de uma russa com um brasileiro. No pano de fundo, a festa, em 2003, dos 300 anos de São Petersburgo, cidade "nascida de um projeto iluminista" que contrasta com a "desrazão da guerra no Cáucaso".
O desamparo dos personagens ganhou muito (mais) da subjetividade do próprio escritor quando ele, em seu terceiro dia na cidade, sofreu uma tentativa de assalto. "Foi uma espécie de trauma fundamental. Tomei consciência do estado de vulnerabilidade do indivíduo sozinho. A ideia da solidão absoluta, num lugar inóspito, permitiu-me a construção dos dois que, quando juntos, não chamam mais a atenção."
O outro ponto pacífico do romance era a relação entre dois homens, tema recorrente em sua obra. Carvalho, porém, ressalta que não quer ser conhecido como escritor gay. "A literatura é a possibilidade de escapar de um lugar no mundo, que é humano e restrito. Nenhum livro meu deixa de ter relação homossexual. Mas não quero o rótulo. Se você o aceita, funciona mercadalogicamente. Não sei se explodiria, até mesmo porque gay não lê. O meio gay não é especialmente letrado. Serei assassinado por dizer isso", afirma, melodramático.
terça-feira, agosto 04, 2009
Sinais do mar
de Ana Maria Machado
por FERNANDO PAIXÃO
Que beleza é Sinais do mar, de Ana Maria Machado. Obra de rara delicadeza editorial. Não apenas por conta do projeto gráfico de Luciana Facchini – reinventando ondas em azul-marinho a cada página do livro-objeto –, mas principalmente pelas poucas e primorosas palavras dessa autora de tão longa e bem sucedida carreira.
Bem se sabe que a arte da poesia é muito distinta da prosa. Pede uma cumplicidade entre o tema e os vocábulos que se aproxima da música. Mais que o reconto dos fatos, valoriza as imagens, os sons. E um silêncio sem palavras. Por isso, o escritor acostumado à prosa tem de reinventar os seus meios e modos, quando se põe a lidar com os versos. Deve desconfiar de si mesmo, se quiser de fato alcançar a dimensão poética.
Desafio esse que foi aceito (e vencido) por Ana. Basta dizer que esse livro ficou decantando ao longo de vinte anos, antes de chegar ao porto da publicação. Representou, na verdade, um longo processo de descobrimento poético por parte da autora, humilde para acolher a espontaneidade dos poemas e deixá-los na gaveta por muito tempo, sempre lidos e por vezes reescritos. Como ela não queria simplesmente escrever mais um livro, permaneceu exigente ao máximo. Queria, à sua maneira, flagrar alguma essência do mundo marinho.
E conseguiu. Seus poemas são como que barcarolas flutuando sobre uma vivência maior – tão maior – de águas e espaços: “Todo barulho/ é visão // O mar balança/ em lenta dança”. Para tanto, ela não oferece mais que palavras quietas e simples, mas carregadas de alta potência sugestiva. Não por acaso, começa com uma aquarela: “coral/ cores/ em coro”.
Digamos que muitos dos sinais reunidos dizem respeito a coisas e animais pequenos e tal, mas que repercutem a dramaticidade viva do imenso oceano. A magia deste conjunto está justamente em dizer em tom pequeno (sob a ótica universal de um vilarejo de praia) aquilo que não se permite nomear: o mar.
Resulta, assim, uma delicada sugestão de águas imaginárias para onde conflui de tudo: conchas e velas, proas e raios, peixes e luas, imensidões e infinitos.
Enquanto isso: “voam as gaivotas/ em revoadas vogais”.
FERNANDO PAIXÃO É POETA, AUTOR DE FOGO DOS RIOS (BRASILIENSE, 1989), 25 AZULEJOS (ILUMINURAS, 1994) E POESIA A GENTE INVENTA (ÁTICA, 1995), ESTE PARA CRIANÇAS. TAMBÉM ORGANIZOU UMA EDIÇÃO DA POÉTICA DE MÁRIO DE SÁ-CARNEIRO (ILUMINURAS, 1995)
de Ana Maria Machado
por FERNANDO PAIXÃO
Que beleza é Sinais do mar, de Ana Maria Machado. Obra de rara delicadeza editorial. Não apenas por conta do projeto gráfico de Luciana Facchini – reinventando ondas em azul-marinho a cada página do livro-objeto –, mas principalmente pelas poucas e primorosas palavras dessa autora de tão longa e bem sucedida carreira.
Bem se sabe que a arte da poesia é muito distinta da prosa. Pede uma cumplicidade entre o tema e os vocábulos que se aproxima da música. Mais que o reconto dos fatos, valoriza as imagens, os sons. E um silêncio sem palavras. Por isso, o escritor acostumado à prosa tem de reinventar os seus meios e modos, quando se põe a lidar com os versos. Deve desconfiar de si mesmo, se quiser de fato alcançar a dimensão poética.
Desafio esse que foi aceito (e vencido) por Ana. Basta dizer que esse livro ficou decantando ao longo de vinte anos, antes de chegar ao porto da publicação. Representou, na verdade, um longo processo de descobrimento poético por parte da autora, humilde para acolher a espontaneidade dos poemas e deixá-los na gaveta por muito tempo, sempre lidos e por vezes reescritos. Como ela não queria simplesmente escrever mais um livro, permaneceu exigente ao máximo. Queria, à sua maneira, flagrar alguma essência do mundo marinho.
E conseguiu. Seus poemas são como que barcarolas flutuando sobre uma vivência maior – tão maior – de águas e espaços: “Todo barulho/ é visão // O mar balança/ em lenta dança”. Para tanto, ela não oferece mais que palavras quietas e simples, mas carregadas de alta potência sugestiva. Não por acaso, começa com uma aquarela: “coral/ cores/ em coro”.
Digamos que muitos dos sinais reunidos dizem respeito a coisas e animais pequenos e tal, mas que repercutem a dramaticidade viva do imenso oceano. A magia deste conjunto está justamente em dizer em tom pequeno (sob a ótica universal de um vilarejo de praia) aquilo que não se permite nomear: o mar.
Resulta, assim, uma delicada sugestão de águas imaginárias para onde conflui de tudo: conchas e velas, proas e raios, peixes e luas, imensidões e infinitos.
Enquanto isso: “voam as gaivotas/ em revoadas vogais”.
FERNANDO PAIXÃO É POETA, AUTOR DE FOGO DOS RIOS (BRASILIENSE, 1989), 25 AZULEJOS (ILUMINURAS, 1994) E POESIA A GENTE INVENTA (ÁTICA, 1995), ESTE PARA CRIANÇAS. TAMBÉM ORGANIZOU UMA EDIÇÃO DA POÉTICA DE MÁRIO DE SÁ-CARNEIRO (ILUMINURAS, 1995)
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